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Assim como discutimos sobre a diversidade étnico-racial, diversidade de gênero, sexual, entre tantas outras, a neurodiversidade é um aspecto que precisa entrar em pauta quando falamos sobre inclusão. O termo foi cunhado na década de 1990 por Judy Singer, socióloga australiana portadora da Síndrome de Asperger. Mas, para entendermos o que é a neurodiversidade, precisamos entender o conceito de neurodivergente e/ou neuroatípico.

Neurodivergente é o termo utilizado para descrever pessoas cujo desenvolvimento neurológico e cognitivo está fora do padrão daquilo que concebemos como normal. Sua configuração pode alterar o aprendizado, o humor, a atenção, a sociabilidade etc.

Logo, a neurodiversidade consiste em olhar para estas variações, normalizá-las, incluindo-as na vida social, acadêmica e profissional. O movimento ganhou força com o ativismo de pessoas dentro do TEA (Transtorno do Espectro Autista), mas rapidamente abraçou outras vias, como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), dislexia, dispraxia, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Síndrome de Tourette, TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático) e transtornos do humor, como Transtorno Bipolar e Depressão Maior.

Segundo um estudo publicado na Harvard Business Review pelo professor Rob Austin, da Ivey Business School, uma a cada 59 pessoas no mundo é neurodivergente. Ao mesmo tempo, cerca de 80% delas estão desempregadas e sentem dificuldade para ingressar no mercado de trabalho. Além disso, o Relatório Anual de Indicadores de Autismo de 2015 mostrou que 37% dos jovens entre 18 e 25 anos nunca conseguiram um emprego após terminar o ensino médio.

Isso ocorre, em grande parte, por conta do estigma negativo e até mesmo preconceituoso a respeito destes transtornos. Pela falta de conhecimento sobre eles e suas características, caímos em estereótipos e taxamos pessoas neurodivergentes como improdutivas e incapazes.

Mas, como era de se esperar, essas impressões são equivocadas. Na verdade, pessoas com um desenvolvimento neurológico diferente podem contribuir muito a uma empresa.

Segundo Nahia Orduña, Gerente Sênior em Analytics e Integração Digital da Vodafone, em entrevista para o Fórum Econômico Mundial, pessoas dentro do TEA possuem alta criatividade e raciocínio lógico, são imaginativas, detalhistas e têm ótima concentração. Já pessoas com dislexia tendem a “pensar fora da caixa”, enxergando soluções inovadoras onde outros nem sempre veem. O TDAH também se destaca quando se trata de criatividade, além disso, essas pessoas entram no estado de hiperfoco, que ocorrem quando se engajam em um tópico de seu interesse.

Na comunicação interna, equipes diversas são essenciais, afinal, criamos conteúdo para pessoas de diferentes empresas, segmentos, localidades, histórias e necessidades. Uma comunicação plural é uma ferramenta para alcançar a variedade de pessoas com compõe a sua empresa.

As companhias que buscam incluir pessoas neurodivergentes precisam também oferecer ambientes adaptados para o colaborador. Por exemplo, fones de ouvido especiais para uma pessoa com Misofonia (Síndrome Seletiva de Sensibilidade a Sons), ambientes com cores mais suaves e luz natural para pessoas dentro do TEA com sensibilidades visuais, assim como locais com menos distrações e estímulos para não afetar as funções executivas de pessoas com TDAH.

Isso, sem mencionar os processos seletivos, que além de humanizados, precisam de profissionais preparados para enxergar todos estas nuances, e mudanças no padrão de processos seletivos, oferecendo ambientes preparados para as diferentes necessidades do candidato.

Profissionais neurodivergentes trazem novas perspectivas e maneiras de enxergar e perceber o mundo por conta de sua vivência única. Projetos e comunicações cada vez mais humanizados e empáticos, preenchendo um gap para contemplar colaboradores que nem sempre são vistos ou acolhidos. Queremos falar com todos, não? Para isso, precisamos enxergá-los.

Mas, tudo começa dando o primeiro passo. Compreender a neurodiversidade é um desses passos, para que possamos acolher e dar oportunidades a mentes que compreendem o mundo de forma diferente e, quem sabe, aprender com elas também.

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